01. Qual a diferença e a semelhança entre o uso da palavra razão na vida cotidiana e na filosofia?
Na vida cotidiana:
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“Razão” costuma significar motivo ou justificativa (“Tenho razão porque o que digo é verdadeiro”, “Qual a razão disso?”).
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Também pode significar “estar certo” numa discussão.
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É um uso mais prático, comum e imediato, ligado à explicação ou ao argumento em situações concretas.
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Na filosofia:
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“Razão” significa a faculdade humana de pensar de forma lógica, crítica e universal.
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É a capacidade de buscar fundamentos, analisar causas e estabelecer critérios de verdade.
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Não é só ter “motivos”, mas a própria estrutura do pensar que permite compreender o real.
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Semelhança: nos dois casos, razão está ligada à explicação e à justificação.
Diferença: no cotidiano é motivo particular; na filosofia é princípio universal da racionalidade humana.
02. Quais são os princípios da razão? Explique o que é um princípio racional.
Princípio racional = fundamento básico do pensamento lógico, uma regra que não pode ser demonstrada, mas que está pressuposta em todo raciocínio. São “evidências primeiras” da razão.
Os três clássicos da lógica aristotélica são:
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Princípio de identidade
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“Uma coisa é o que é.”
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Ex.: A = A.
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Garante a consistência do pensamento.
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Princípio de não-contradição
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“Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto.”
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Ex.: não é possível que “a porta esteja aberta e fechada ao mesmo tempo”.
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Evita contradições no raciocínio.
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Princípio do terceiro excluído
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“Ou algo é, ou não é; não há terceira possibilidade.”
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Ex.: ou chove, ou não chove (não existe um “meio-termo lógico” entre os dois).
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Garante clareza e decisão nas proposições.
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03. Explique a fenomenologia de Husserl, descrevendo o que ele entende por fenômeno.
Fenomenologia é o método criado por Edmund Husserl (séc. XX) para descrever a experiência da consciência sem pressupostos prévios.
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Ele propõe a “volta às coisas mesmas”: olhar diretamente para aquilo que se mostra à consciência, antes de explicações científicas, religiosas ou de senso comum.
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O fenômeno, para Husserl, não é apenas “aparência”, mas tudo aquilo que se dá à consciência, tal como se manifesta na experiência.
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Ele defende a epoché (suspensão de juízos): colocamos “entre parênteses” as crenças sobre a existência do mundo e analisamos como as coisas aparecem para a consciência.
Então, fenômeno é aquilo que aparece à consciência, na forma como é vivido, e a fenomenologia busca descrevê-lo em sua pureza.
04. O que é a essência para Husserl?
Essência é o núcleo invariável de uma experiência ou objeto, aquilo que permanece o mesmo em todas as variações possíveis. Exemplo: quando vejo várias cadeiras diferentes, posso reduzir cada experiência até chegar à “essência de cadeira”, isto é, o que faz algo ser cadeira, independentemente de forma, cor ou material. Para Husserl, a fenomenologia permite alcançar a intuição eidética (ou visão da essência), isto é, o acesso direto ao que define um fenômeno como aquilo que ele é.
05. Qual a diferença entre razão instrumental e razão crítica para a Escola de Frankfurt ou Teoria Crítica?
A Escola de Frankfurt (Adorno, Horkheimer, Habermas, etc.) criticou a forma como a razão moderna foi usada:
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Razão instrumental:
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Foca apenas em meios e resultados práticos.
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Visa eficácia, controle e dominação da natureza e dos homens.
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Reduz a racionalidade a um cálculo de utilidade (ex.: tecnologia usada só para lucro, não para emancipação).
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Razão crítica:
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Vai além da técnica, buscando avaliar fins, valores e consequências sociais.
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Questiona se aquilo que fazemos é justo, humano, libertador.
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É a razão que permite autonomia, crítica social e emancipação.
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A crítica da Escola de Frankfurt é que a modernidade exagerou na razão instrumental e perdeu a dimensão crítica, o que leva à alienação e à opressão.
06. O que é a razão no pensamento contemporâneo?
No pensamento atual, a razão não é vista mais como algo único, absoluto e universal (como no Iluminismo).
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Ela é entendida como plural, situada e crítica:
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Pluralidade de racionalidades (científica, prática, estética, ética, comunicativa).
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Razão comunicativa (Habermas): destaca o diálogo, o consenso e a argumentação como formas de racionalidade.
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Razão limitada: reconhece seus próprios limites diante da complexidade da realidade (não pode explicar tudo sozinha).
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Razão crítica e ética: deve servir para refletir sobre valores, direitos humanos, meio ambiente, ciência e tecnologia, evitando o reducionismo instrumental.
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Assim, hoje a razão é pensada como ferramenta de compreensão e emancipação, mas também com consciência de seus limites e da necessidade de diálogo com outras formas de saber.
07. Comente as diferenças entre atitude racional e outras atitudes de nossa existência.
Atitude racional:
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Baseada no pensamento lógico, crítico e reflexivo.
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Busca coerência, argumentos fundamentados e explicações universais.
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Ex.: analisar se uma decisão é justa considerando princípios éticos e consequências.
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Outras atitudes:
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Mítica/religiosa: fundamenta-se na fé, tradição ou narrativas sagradas.
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Senso comum: espontânea, prática, sem questionar profundamente.
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Estética/artística: baseada na sensibilidade, emoção e intuição criadora.
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Pragmática: busca resolver problemas imediatos, sem se preocupar com fundamentos universais.
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A diferença central é que a razão problematiza e fundamenta, enquanto as outras atitudes se apoiam em fé, costume, intuição ou prática imediata.
08. Mostre as diferenças entre a indução e a dedução.
Indução:
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Raciocínio que vai do particular ao geral.
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Baseia-se na observação de casos concretos para chegar a uma lei ou regra.
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Ex.: observei que todos os metais que testei dilatam com o calor → concluo que “todos os metais se dilatam com o calor”.
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Problema: nunca é absolutamente certa, pois novos casos podem contradizer a regra.
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Dedução:
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Raciocínio que vai do geral ao particular.
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Parte de princípios ou leis universais e aplica a casos concretos.
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Ex.: “Todos os homens são mortais. Sócrates é homem. Logo, Sócrates é mortal.”
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Vantagem: se as premissas forem verdadeiras, a conclusão é necessariamente verdadeira.
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➡ Resumindo: indução = do particular ao geral; dedução = do geral ao particular.
09. Comente a questão da continuidade ou descontinuidade da razão na História.
Há um debate filosófico sobre se a razão mantém uma linha contínua ou se sofre rupturas:
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Continuidade:
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A razão seria sempre a mesma faculdade humana, usada desde a Grécia Antiga até hoje.
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A história mostra desenvolvimento progressivo, mas não mudança de essência.
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Ex.: de Sócrates até Kant e além, sempre houve a busca pela verdade e pela coerência lógica.
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Descontinuidade:
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A forma de entender a razão muda radicalmente em diferentes épocas.
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Ex.:
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Na Grécia, razão = logos, busca da ordem cósmica.
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Na Idade Média, razão submetida à fé.
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No Iluminismo, razão = autonomia, ciência e progresso.
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Na contemporaneidade, razão é limitada, múltipla e crítica.
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Mostra que a racionalidade não é fixa, mas histórica e cultural.
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O mais aceito hoje é que existe uma continuidade (a razão sempre está presente como faculdade humana), mas com descontinuidades históricas (formas diferentes de entender e aplicar a razão).

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